sábado, 24 de abril de 2010

Físico brasileiro contesta a teoria do Big Bang

da Livraria da Folha


Em relação à origem do Universo, os pesquisadores se dividem basicamente em dois grupos: os que apóiam a teoria do Big Bang e os que sustentam a hipótese do Universo Eterno.


Livro analisa o surgimento de outras teorias sobre a origem do universo





O brasileiro Mário Novello, doutor em física pela Universidade de Genebra e pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), que está no rol dos cientistas mais respeitados do mundo, é partidário do segundo grupo.

Polêmico por ter contabilizado os grávitons em 10 120 ("1" seguido por 120 "zeros"), partícula que os físicos não são capazes de comprovar a existência, Novello afirma em seu novo livro que a explicação do Big Bang é equivalente aos mitos religiosos.

Leia também: Físico brasileiro faz maior contagem do Universo

Com lançamento previsto para o dia 30 de abril, "Do Big Bang ao Universo Eterno" apresenta as razões históricas que levam a teoria do Big Bang perder seu caráter hegemônico.

Abaixo, leia um trecho do livro.

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Em dezembro de 2007, concluí, com meu colaborador Santiago Bergliaffa, a redação de um artigo que uma revista científica me convidara a escrever, e que nos ocupou intensamente aquele ano todo. Tratava-se de analisar de modo crítico as diferentes propostas que os cosmólogos produziram, ao longo do século XX até os nossos dias, envolvendo modelos cosmológicos não singulares, isto é, modelos que se opõem frontalmente ao antigo cenário-padrão chamado big bang.

O resultado dessa análise - em que examinamos mais de 400 trabalhos científicos - foi um artigo longo, de mais de 100 páginas, que ganhou o título de "Bouncing cosmologies". Quando, no final do mesmo ano, enviamos o texto para a prestigiosa revista Physics Report, nos demos conta de que aquele era um momento simbólico do fim do paradigma paralisante do modelo explosivo. Com efeito, era a primeira vez, desde os anos 1970 - data que marca o começo da hegemonia do cenário da grande explosão -, que uma revista científica de tão elevada reputação na comunidade internacional da ciência abria tamanho espaço para examinar a questão crucial da cosmologia, a origem do Universo, fora do contexto simplista do cenário big bang.

Nesse cenário, o momento singular, caracterizado por uma condensação máxima pela qual o Universo passou há uns poucos bilhões de anos, é identificado ao "começo do Universo" e não permite análise ulterior. Em oposição, no cenário não singular, o Universo não tem um "começo" separado de nós por um tempo finito em nosso passado; aquele momento de condensação máxima nada mais é que um momento de passagem de uma fase anterior para a atual fase de expansão.

No modelo cosmológico do Universo eterno, nesses cenários não singulares, dá-se um passo a mais, ao procurar uma explicação racional para a expansão do volume total do Universo. Dito de outro modo, trata-se de retirar o limite que os cientistas se impuseram arbitrariamente, no século XX, rumo à análise do que teria ocorrido antes do momento de máxima condensação, produzindo aquele estado único, especial, a partir do qual o volume total do espaço aumentaria com o passar do tempo cósmico, exibindo uma expansão.

O presente livro, baseado no artigo de 2007 e em uma série de conferências que realizei ao longo de 2007 e 2008, introduz o leitor não especialista à seguinte questão: o Universo teve um começo em um tempo finito, ou ele é eterno?

Neste momento, talvez fosse relevante abrir um pequeno parêntese para um comentário pessoal que me parece bastante significativo e exemplifica muito bem por que se manteve durante tanto tempo a exagerada hegemonia de que desfrutou o cenário big bang.

Quando, há uma década, eu estava passando um período de colaboração com cientistas da Universidade de Lyon, na França, fui convidado pelo Conselho Cultural de Villeurbane - região onde está situada aquela Universidade - a apresentar uma conferência para o grande público sobre os avanços da cosmologia. Ao conversar com alguns professores sobre a palestra, comentei que iria apresentar as duas alternativas que os cientistas haviam elaborado para descrever as origens do Universo: as propostas do big bang e do Universo eterno.

Um professor da Universidade de Lyon fez então um comentário que me espantou enormemente. Embora conhecendo minhas críticas a este modelo, disse que eu deveria falar apenas do big bang, acrescentando que não caberia enfatizar as dificuldades de princípio que ele possui. "Para as pessoas que não são especialistas em cosmologia, e mesmo para cientistas de outras áreas", continuou, "não se devem explicitar dúvidas que os cosmólogos possam ter sobre a evolução do Universo. Segundo ele, isso só contribuiria para reduzir o status dessa ciência, abrindo espaço para o aparecimento de explicações de caráter não científico e até transcendentais." Acrescentou que isso se devia à particularidade da cosmologia e à grandiosidade do objeto de seu estudo, estas centenas de bilhões de galáxias e estrelas que podemos observar no Universo.

Respondi-lhe que aquilo ia contra meu propósito de ensinar, entendendo que esta função tem por principal atributo pôr em dúvida todo conhecimento, incluindo aquele que se pretende isento de críticas. E também que vivíamos uma situação de transição, na qual o antigo modelo big bang perdia seu caráter absolutista e hegemônico - o que efetivamente aconteceu na década seguinte. Ademais, acrescentei, deveríamos ter todo cuidado ao deixar sair dos laboratórios e passar para a sociedade informações que os cientistas estão longe de poder demonstrar com toda certeza. Mais ainda: como essas verdades provisórias alcançam imediatamente as páginas dos jornais cotidianos e das revistas não especializadas, devemos, logo que possível, esclarecer e enfatizar essa condição efêmera, com mais razão ainda quando se trata de questões envolvendo tema tão sensível quanto o "começo de tudo".

Embora o problema da "origem do Universo" não tenha, para os cosmólogos, importância primordial - pois é um dentre vários com que se defrontam na produção de uma explicação racional a respeito dos diversos fenômenos observados no Universo -, para a maioria das pessoas ele apresenta um interesse fantasticamente grande, que vai muito além da simples curiosidade eventual e passageira. A razão para isso tem a mesma origem daquela que impulsionou os povos do passado, ao longo da história de todas as civilizações, a produzir mitos cosmogônicos sobre a criação.

O estudo desses diferentes modos de conceber, nas civilizações antigas, de onde e como surgiu tudo que existe possui uma bibliografia vasta e bastante específica. Quanto à forma científica de organizar e divulgar essa questão, a quase totalidade de textos de fácil acesso se limita à versão da criação explosiva. Isso seria aceitável se ela fosse validada pela observação, sem que houvesse qualquer explicação alternativa. Mas, ao contrário, como veremos, ela é precisamente o modelo que inibe uma história racional completa do Universo.

Nas últimas três décadas, houve uma exagerada exposição e exaltação do big bang. Por outro lado, existe um desconhecimento quase completo a respeito do cenário do Universo eterno. Este livro pretende equilibrar a situação. Em alguns capítulos, acrescentei comentários sobre assuntos abordados no texto. No final do livro, incluí um glossário com o intuito de complementar informações e reunir definições simplificadas de termos técnicos.

Antes de começarmos nossa caminhada, porém, devo fazer um comentário adicional. Nos últimos anos, por diferentes razões, a cosmologia tem estado permanentemente sob os holofotes da mídia, seja na imprensa, na televisão ou mesmo em discos com pactos. É fácil constatar que muitas das informações referentes ao big bang são produzidas sem que se obedeça ao compromisso fundamental que qualquer divulgador da ciência - seja ele cientista ou não - deve cumprir. Como a divulgação científica se destina, na maior parte das vezes, a não especialistas - que não possuem as ferramentas formais para avaliar criticamente o que lhes é apresentado -, toda afirmação que se faz e que não teve ainda sua veracidade confirmada pelos métodos convencionais, absolutos e universais da ciência deve exibir para o ouvinte e/ou o leitor sua condição limitada ou provisória. Caso contrário, como já comentei, esse uso indevido do status elevado que a ciência possui nada mais será que uma "máscara atrás da qual se esconde um poder político que não ousa se declarar como tal"

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"Do Big Bang ao Universo Eterno"
Autor: Mario Novello
Editora: Zahar
Páginas: 132
Quanto: R$ 28,00
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

Chutes involuntários caracterizam síndrome das pernas inquietas

Bastante comum em idosos, o problema é considerado um distúrbio do sono.

Yahoo! BELEZA E SAÚDE

Por Natalia do Vale

Formigamento e inquietação involuntária das pernas que incomoda de tal maneira que fica difícil dormir bem são sinais do quadro que indica a síndrome das pernas inquietas, um mal que atinge 30% da população mundial.

"Existem dois distúrbios do sono relacionados ao movimento das pernas: a síndrome das pernas inquietas e os movimentos periódicos das pernas, que se manifestam em situações de relaxamento, em geral antes de dormir e durante o sono".

"Na síndrome, que antecede o sono, a pessoa sente formigamento e cãibras que só passam quando se movimenta as pernas. No caso dos movimentos periódicos, ocorrem chutes e despertares noturnos", explica a educadora física do Instituto do Sono Andrea Maculano. "O quadro mais comum é que as pessoas apresentem as duas patologias associadas", explica.
Pernas inquietas

A resposta está no sistema nervoso central Diversas observações foram feitas ao longo de anos de estudo sobre a síndrome. Para a especialista do Instituto do Sono, a doença é resultado de uma disfunção no sistema nervoso central que altera a recepção dos estímulos motores pelas pernas.

De acordo com Andrea, não há causas comprovadas do problema, mas sabe-se que algumas situações podem agravar o quadro: "a síndrome está diretamente ligada à falta de ferro no organismo, ao uso de medicamentos que alteram o sistema nervoso central e a fatores genéticos", explica.

A síndrome se caracteriza por movimentos rítmicos, repetidos e estereotipados das pernas, ocasionados por contrações musculares como extensão do dedão do pé, dorso flexão do tornozelo ou graus variáveis de flexão e extensão do joelho ou do quadril. A contração muscular ocorre em intervalos regulares de 10 a 120 segundos.

Saiba mais:
* Expectativa de vida
* Tique nervoso
* Mal de Parkinson

"Muitas vezes a pessoa nem percebe o problema e as contrações se tornam cada vez mais frequentes. Então, tornam-se comuns chutes e insônia. O ideal é buscar ajuda logo aos primeiros sinais do distúrbio para não desenvolver outras patologias e machucar quem compartilha a mesma cama", explica Andrea.

O diagnostico vem após um exame chamado polissonografia, que avalia o padrão do sono da pessoa. "São colocados eletrodos em regiões especificas do cérebro para monitorar o que acontece durante uma noite de sono. Assim o paciente consegue perceber a inquietação", explica.

A idade interfere sim!

Na maioria das vezes, a inquietação das pernas aumenta com a idade. Segundo a especialista, estima-se que 40% dos casos ocorram em pessoas acima de 60 anos.

No entanto, essa síndrome pode ter caráter genético. Nestes casos, os sintomas podem aparecer mais cedo, por volta dos 20 anos ou até mesmo em crianças.

Outras doenças associadas

Em geral, o movimento involuntário das pernas está associado à insuficiência renal, lesão medular, anemia e é mais presente em gestantes devido a redução dos níveis de ferro no organismo durante a gravidez: "alguns nutrientes ajudam a manter o equilíbrio entre as ações dos sistema nervoso e sua execução pelo corpo. Quando há deficiência destas substâncias, ocorrem alterações motoras como as que caracterizam a síndrome", explica Andrea.

Mas nem sempre a inquietação tem origem na falta de nutrientes e, muitas vezes, indica a presença de outras patologias, como as que atingem os rins, a medula e músculos, além de anemia e doenças típicas do sistema nervoso central como o Mal de Parkinson.

Exercícios físicos contra o mal

A prática regular de exercícios físicos é capaz de melhorar os sintomas da síndrome. "Praticar atividades físicas ajuda a manter corpo e mente em equilíbrio. No primeiro momento, partimos para a prática de exercícios coordenados e específicos e, caso na funcionem, prescrevemos o uso de medicamentos que agem direto no sistema nervoso", explica Andrea.

Tratamento Vários tipos de tratamento estão sendo usados para melhorar a síndrome. A especificação de cada um deles depende muito da gravidade do caso e dos impactos no dia a dia do paciente.

"Em geral, usam-se substâncias para o tratamento farmacológico, como, por exemplo, os agentes dopaminérgicos, os opiáceos, os benzodiazepínicos, os anticonvulsivantes e o ferro, que ajudam a controlar os movimentos ou a diminuir a intensidade das contrações", afirma a especialista do Instituto do Sono.

sábado, 17 de abril de 2010

Cérebro divide tarefas simultâneas entre suas metades

FOLHAONLINE

RAFAEL GARCIA
da Reportagem Local

Um experimento francês mostrou que, quando uma pessoa executa duas tarefas ao mesmo tempo, o cérebro divide o trabalho: a metade direita cuida de uma delas e, a esquerda, de outra. A descoberta parece banal, mas gerou surpresa: o cérebro não costuma repartir coisas de modo simples.

O trabalho, realizado no Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica, em Paris, foi conduzido pelos neurocientistas Sylvain Charron e Etienne Koechlin, com 32 voluntários.



Todos tiveram seus cérebros monitorados por uma máquina especial de ressonância magnética enquanto realizavam tarefas passadas pelos cientistas.

O teste começava com as pessoas tendo de montar um quebra-cabeça de letras que vinham embaralhadas. Cada vez que obtinham sucesso, eram recompensados com uma pontuação.

Enquanto voluntários se ocupavam do jogo, a ressonância mostrava que uma parte específica de seus cérebros --o córtex medial frontal, na superfície do órgão, junto à testa- estava ativo em suas duas metades, direita e esquerda, ambas focadas na mesma tarefa.

Isso já era esperado, pois essa área é recrutada pelo circuito cerebral que modula a motivação para perseguir objetivos de acordo com a recompensa.

Quando os voluntários passaram a ter de fazer duas tarefas ao mesmo tempo, porém, o perfil de ativação cerebral mudava. No experimento, isso foi demonstrado com as pessoas tendo de resolver dois quebra-cabeças distintos, um deles em letras maiúsculas e outro em letras minúsculas.

A recompensa para cada um era diferente, mas ambos vinham embaralhados nas mesmas palavras, obrigando os voluntários a resolvê-los no mesmo pacote.

Em espera


Nessa situação, a parte direita do córtex medial frontal se encarregava da tarefa que estava sendo resolvida no momento, enquanto a parte esquerda mantinha a outra "em espera". Quando os voluntários passavam à tarefa secundária, ela trocava de lugar no cérebro.

"Esperávamos ver uma repartição de objetivos, mas foi uma surpresa essa divisão ocorrer de modo tão nítido", disse Koechlin à Folha. O resultado é descrito hoje na revista especializada "Science".

Os neurocientistas sabem que os dois hemisférios do cérebro não funcionam paralelamente. É comum ouvir na cultura popular que o lado esquerdo é "racional", enquanto o direito é "intuitivo".

Desequilíbrio


É uma simplificação, mas o desequilíbrio existe. Regiões cerebrais essenciais para o funcionamento da linguagem, como a área de Broca, só existem do lado esquerdo. Não era de esperar, portanto, que em uma tarefa como o jogo de palavras usado o trabalho fosse simplesmente repartido meio a meio.

"Tarefas com letras normalmente envolvem predominantemente o hemisfério esquerdo", conta Koechlin. "Então, é notável termos descoberto que o lobo frontal direito dirige a tarefa em andamento durante a condição de dupla tarefa. Isso mostra que a divisão encontrada provavelmente não está relacionada a material verbal."

Segundo os pesquisadores, a raiz dessa estruturação no cérebro está na própria maneira de raciocinar. O experimento, dizem, sugere uma explicação sobre por que as pessoas gostam de resolver problemas complexos quebrando-os em decisões binárias, quando, em cada etapa, é preciso escolher uma entre duas opções.