domingo, 31 de agosto de 2008

NYT: É verdade que manipular o pescoço pode levar a um derrame?

The New York Times
A AFIRMAÇÃO: Manipular o pescoço pode levar a um derrame.

OS FATOS: Manipular o pescoço deveria aliviar a dor, não causá-la. Mas há alguns anos cientistas observaram um padrão estranho de pessoas que sofreram derrames logo após freqüentarem quiropráticos, especialmente para ajustar o pescoço.

A hipótese dos cientistas é que uma técnica quiroprática chamada de manipulação espinhal cervical, que envolve um giro forçado do pescoço, poderia danificar duas grandes artérias que vão através do pescoço até a parte posterior do cérebro. Derrames em pessoas antes dos 45 anos são relativamente raros, mas essas desconexões arteriais cervicais são uma das principais causas.






Leif Parsons/The New York Times
O giro forçado do pescoço realizado pelo quiroprático poderia danificar duas artérias e causar um derrame, mas nem todos os estudos confirmam essa possibilidade






Estudos subseqüentes sugeriram essa relação. Um deles, em Stanford, que entrevistou 177 neurologistas, descobriu que 55 pacientes sofreram derrames após sessões no quiroprático. Outro estudo, publicado no jornal "Neurologist", afirmou que pacientes jovens de derrame têm cinco vezes mais tendência a terem tido ajustes no pescoço uma semana antes do derrame do que o grupo controle. O estudo estimou uma incidência de 1,3 casos para cada 100 mil pessoas até 45 anos que tratam de ajustes no pescoço.

No entanto, outros estudos deixam dúvidas. Um deles, publicado este ano, examinou 818 casos de derrame relacionados a dissecções arteriais na parte posterior do pescoço. Antes dos derrames, pacientes mais jovens que freqüentaram o quiroprático reclamaram mais de dor de cabeça e pescoço antes de recorrer ao quiroprático - sintomas que geralmente antecedem um derrame - sugerindo que eles tinham dissecções não-diagnosticadas e que recorreram aos quiropráticos para aliviar a dor, sem saber da iminência do derrame.

O VEREDICTO: A manipulação vigorosa do pescoço aparentemente apresenta um pequeno risco de rompimento arterial...

UOL Ciência e Saúde








sábado, 30 de agosto de 2008

Tomar decisões extenua o cérebro

O cérebro é como um músculo: quando cansado torna-se menos eficaz.

por On Amir

A mente humana é uma máquina notável, porém limitada. Recentemente, um conjunto crescente de pesquisas tem focalizado certa limitação mental, relacionada à nossa capacidade de usar uma peculiaridade da mente conhecida como função executiva. Quando se concentra em uma tarefa específica por um período prolongado ou se opta por comer uma salada em vez de um pedaço de bolo, os músculos da função executiva estão sendo flexionados. Os dois processos mentais exigem esforço consciente ─ de resistir à tentação de deixar a sua mente vagar ou de sucumbir ao prazer da sobremesa. O problema é que a utilização da função executiva ─ um talento em que todos confiam do começo ao fim do dia ─ recorre a uma única fonte cerebral de capacidade limitada. Quando esse recurso é esgotado por uma atividade, nossa capacidade mental pode ser seriamente reduzida para outras atividades aparentemente estranhas.

Imagine que precisa tomar uma decisão muito difícil, por exemplo, decidir entre duas ofertas de emprego, qual aceitar. Uma posição oferece boa remuneração e segurança, mas é bastante trivial, enquanto que outra é realmente interessante e oferece remuneração razoável, mas não proporciona segurança. É claro que você pode resolver este dilema de muitas maneiras. Poucas pessoas, no entanto, diriam que sua decisão seria afetada ou influenciada por ter resistido ou não, ao desejo de comer biscoitos antes de estudar as ofertas de trabalho. Uma década de investigação psicológica sugere o contrário. Atividades independentes que sobrecarregam a função executiva têm efeitos prolongados importantes, e pode perturbar a capacidade de tomar uma decisão séria. Em outras palavras, você poderá escolher o emprego errado porque não ter comido um biscoito.

UOL Ciência e Saúde

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Caetano Veloso diz que crítica de show com Roberto Carlos é provinciana






Caetano Veloso e Roberto Carlos cantaram músicas de Tom Jobim em São Paulo







Em texto publicado em seu blog na madrugada de ontem, Caetano Veloso atacou as críticas negativas que a Folha e o "Estado de S. Paulo" publicaram a respeito de seu show com Roberto Carlos em São Paulo, na última segunda.

A apresentação em homenagem a Tom Jobim, no Auditório Ibirapuera, foi avaliada como "ruim" pela repórter Sylvia Colombo, da Ilustrada, no texto "Roberto e Caetano fazem show chato", publicado anteontem.

"O teatro é elegante e induz à quietude. Se o show fosse no Ginásio do Ibirapuera, o ruído dos aplausos assustaria a boba da Folha e o burro do "Estadão" que escreveram sobre o show", escreveu Caetano no blog Obra em Progresso.

"Há anos não leio nada tão errado sobre música brasileira --e, mais uma vez, envolvendo Roberto Carlos e este transblogueiro que vos fala. Se eu tivesse direito a convite, teria chamado Augusto de Campos para estar presente ao encontro: foi ele quem escreveu o primeiro texto de apoio crítico à Jovem Guarda, prefigurando o tropicalismo e opondo a energia da turma de Roberto e Erasmo à pretensão da turma de Elis. São Paulo é isso."

Em sua crítica, Sylvia Colombo escreveu que o problema do espetáculo não estava na qualidade dos envolvidos, mas no "conceito" do show.

"Ambos os artistas aceitaram passivamente fazer um show contido, bem-comportado, de arranjos convencionais, e que não trouxe nada diferente ou intrigante para um público cuja última coisa que parecia querer era se surpreender."

No "Estado de S. Paulo", Jotabê Medeiros escreveu que a noite foi "tediosa", em texto intitulado "Caetano, o Rei e o show de naftalina". "A bossa de Caetano e Roberto, ao menos nesse show, está doente e chamaram dois totens da MPB para fazer a necrópsia."

Caetano escreveu sobre as críticas em post intitulado "Marginal Pinheiros". "Escrevo isso só para mostrar aos que comentaram as críticas hilárias da província paulistana que também li e que fiquei com pena dos dois fanfarrões que não sabem nem escrever."

O compositor também disse que "de alguma forma o artigo da mulher parece ser mais prejudicial do que o do cara", mas que seu texto não era uma resposta "a ela nem a ele".

"Nada digo aos jornais que os publicaram. Deixo aos leitores paulistanos que viram o show. Eles vão escrever protestando. Os jornais talvez publiquem algumas das cartas."

Folha OnLine

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

"Deu zebra"? "Rodar a baiana"? "Lavar a égua"?

"Deu zebra"?

Imagine você ter jogado na loteria e ficar sabendo que os números divulgados do vencedor são os mesmos que o do seu bilhete. Porém, quase em êxtase, ao procurá-lo no bolso, o bendito papel já não está mais lá. É, pode considerar que "deu zebra".
A origem da expressão "dar zebra", utilizada nas situações em que o resultado foi algo impossível de acontecer, surgiu no popular Jogo do Bicho, como informa o professor de Língua Portuguesa Ari Riboldi. Segundo conta em seu livro O bode expiatório, a zebra não está entre os 25 animais que emprestam o nome a essa loteria ilegal, por isso, interpreta-se o fato como uma "tragédia" inesperada.

Ao longo do tempo, como descreve a obra, a expressão passou a ganhar popularidade no futebol antes de se espalhar para as demais modalidades esportivas. Um exemplo disso é quando uma equipe, considerada favorita pela sua maior qualidade, é derrotada por outra que não tinha qualquer chance de vitória.

Atualmente, o termo ganhou às ruas e é usado no dia-a-dia das pessoas. Portanto, não teste a sua "sorte" para não correr o risco de usar a expressão.

"Rodar a baiana"?

Rodar a baiana é armar um barraco, fazer uma confusão - pare cinco minutos em algum evento popular e você verá alguém rodando a baiana. Mas de onde saiu isso?

O Carnaval já era uma farra no início do século, e como toda bagunça que se preze, tinha confusão. A mais repetida explicação para a expressão "rodar a baiana" vem justamente daí: em meio aos desfiles da época no Rio de Janeiro, que não tinham televisão e nem Joãosinho Trinta, alguns gaiatos já tinham a mania de passar a mão no bumbum da mulherada.

Isso também acontecia com as baianas - era um beliscão, um grito e um giro. Até que elas começaram a desfilar com guarda-costas disfarçados, capoeiristas vestidos como elas que revidavam com navalhas, e aí você tem a autêntica rodada de baiana: belisco, giro, confusão.

Seria uma excelente explicação, pena é que não há como saber ao certo se ela procede. Não apenas nesse caso, mas na maioria das expressões do nosso idioma. O professor e doutor em Letras Cláudio Moreno explica que rastrear a origem dessas explicações é tarefa quase impossível, por dois motivos. O primeiro é a dificuldade em se pesquisar na imprensa do século XIX e início do século XX, uma vez que não há uma base de dados unificada de jornais, como a mantida pela Inglaterra. "É nos jornais que se registra a língua viva. Mesmo assim, se registra o uso, não a criação", explica.

Além disso, na maioria das vezes a explicação é inventada, diz Moreno. "Como nos livros de matemática em que temos a resposta no fim do livro, e fazemos uma conta só para chegar naquele número, é tudo chute. Eu também sempre achei que a expressão vem do vestido das baianas, mas como saber ao certo?"

"Lavar a égua"?

É recorrente ouvirmos a expressão "lavar a égua" quando alguém fica extremamente satisfeito ao conquistar uma grande vitória, principalmente no jogo. A dúvida é por que se emprega tal expressão para dizer que alguém se deu bem?

Para o professor Ari Riboldi, a relação teria surgido no turfe, em um gesto de gratidão do proprietário com a égua, quando esta vencia um páreo.

Segundo conta Riboldi, em seu livro O bode expiatório, a égua recebia do próprio dono um banho de champanhe como forma de agradecimento pelo lucro satisfatório conseguido em um esporte tão apreciado por reis e pela nobreza.

Porém, o alegre destino era um privilégio apenas das fêmeas. Se o vencedor fosse um macho, o destino do pobre animal era voltar à cocheira apenas com a satisfação de ter cumprido com sua obrigação.

Ao longo do tempo, como descreve o livro, a expressão foi se modificando e deixando de ter o sentido aplicado ao hábito de banhar o animal.

Terra História

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

'Volare' faz 50 anos e Modugno é homenageado em Veneza


BARI, 25 AGO - O cantor italiano Domenico Modugno, que ganhou fama mundial com a canção "Volare", será homenageado no 65º Festival de Cinema de Veneza com a projeção de dois filmes estrelados por ele: "Nel blu dipinto di blu" (1959) e "Tutto è musica" (1963).

Cantor e compositor de grande sucesso na década de 50, Modugno também participou da realização de diversos filmes. Em 2008, faria 80 anos de idade e a canção "Nel blu dipinto di blu", que ficou conhecida como "Volare", completa 50 anos de existência.

Em "Nel blu dipinto di blu", Modugno interpreta o protagonista de um triângulo amoroso, do qual também faz parte Vittorio De Sica, diretor do clássico "Ladrões de Bicicleta", que também terá uma sessão especial no festival . O filme marca o período de maior sucesso do cantor, que no ano anterior havia recebido dois Grammys de melhor disco e melhor canção de 1958.

Autobiográfico, "Tutto è musica" é o único filme escrito, dirigido e estrelado por Modugno, que criou um roteiro inspirado em suas próprias canções.

A exibição dos filmes vai acontecer na abertura do festival, em 27 de agosto, e entre os convidados estão o prefeito da cidade de Polignano al Mare, onde Modugno nasceu, Angelo Bovino, a viúva do cantor, Franca Gandolfi Modugno, e o letrista Franco Migliacci, parceiro de Modugno em muitas composições, como "Volare".

UOL Cinema

♫ ♪ ♫ Volare ♫ ♪ ♫

Letra

Pienso que un sueno parecido no volvera mas
Y me pintaba las manos y la cara de azul
Y me improviso el viento rapido me llevo
Y me hizo a volar en el cielo infinito

Volare, oh oh
Cantare, oh oh oh oh
Nel blu dipinto de blu
Felice de stare lassù

Y volando, volando feliz
Yo me encuentro mas alto
Mas alto que el sol
Y mientras que el mundo
Se aleja despacio de mi
Una musica dulce
Se ha tocada solo para mi

Volare, oh oh
Cantare, oh oh oh oh
Nel blu dipinto de blu
Felice de stare lassù

Pienso que un sueno parecido no volvera mas
Y me pintaba las manos y la cara de azul
Y me improviso el viento rapido me llevo
Y me hizo a volar en el cielo infinito

Volare, oh oh
Cantare, oh oh oh oh
Nel blu dipinto de blu
Felice de stare lassù

Volare, oh oh
Cantare, oh oh oh oh
Nel blu dipinto de blu
Felice de stare lassù
Pienso que un sueno parecido no volvera mas
Y me pintaba las manos y la cara de azul
Y me improviso el viento rapido me llevo
Y me hizo a volar en el cielo infinito

Volare, oh oh
Cantare, oh oh oh oh
Nel blu dipinto de blu
Felice de stare lassù

Volare, oh oh
Cantare, oh oh oh oh
Nel blu dipinto de blu
Felice de stare lassù

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Vaca se orienta pelo campo magnético da Terra, diz estudo

da Associated Press

Fazendeiros e pessoas atentas do interior sabem que a maioria do gado, quando pasta, volta-se para a mesma direção. Muitos se perguntam o que determina esse alinhamento. Agora, um estudo publicado no periódico "Proceedings of the National Academy of Sciences" parece responder, pelo menos em parte, a essa questão. Para pesquisadores alemães e tchecos, o campo magnético da Terra é um dos principais fatores determinantes.

De acordo com os cientistas, que analisaram fotos de satélite de milhares de bovinos ao redor do mundo e também fizeram estudos de campo, parece que o gado sabe como encontrar o norte e o sul.

A maior parte dos animais observados que pastava ou descansava tendia a alinhar os seus corpos em uma direção norte-sul, afirmou o estudo, conduzido por Hynek Burda e Sabine Begall, da Faculdade de Biologia na Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha.

A constatação se mantém verdadeira independentemente do continente em que o rebanho se localize, segundo eles. "O campo magnético da Terra tem de ser considerado como um fator", declararam.

O tema desafia os cientistas a descobrir por que e como estes animais alinham o corpo ao campo magnético, disse Begall.

"Naturalmente, a questão levanta se os seres humanos também apresentam um comportamento espontâneo", afirmou. O estudo levou Tina Hinchley, que cuida com o marido de uma fazenda leiteira no Estado de Wisconsin, EUA, a ter um novo olhar para uma foto aérea tomada de sua fazenda há alguns anos atrás. "As vacas estavam espalhadas por todos os lados do pasto e cerca de dois terços estavam na direção norte-sul", disse Hinchley.

Essa proporção é próxima da verificada pelos investigadores ao olhar para 8.510 bovinos em 308 pastagens. No estudo, entre 60% e 70% dos bovinos ficaram virados para a direção norte-sul, o que Begall chamou de "desvio altamente significativo de distribuição aleatória".

Meteorologia

A equipe de pesquisa observou que, quando há ventania, o gado tende a enfrentar o vento, e também tende a procurar o sol em dias frios. Mas os cientistas disseram que foram capazes de descontar os efeitos meteorológicos no estudo, analisando pistas como a posição do sol baseada em sombras.

"Esta é uma descoberta surpreendente", disse Kenneth J. Lohmann, do Departamento de Biologia da Universidade da Carolina do Norte. Lohmann, que não fez parte do estudo, advertiu, porém, que a pesquisa "é inteiramente baseada em correlações".

"Para demonstrar conclusivamente que os bovinos têm um senso magnético, algum tipo de manipulação experimental será eventualmente necessária", disse.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Cada medalha olímpica brasileira custou R$ 50 milhões

Pode ter faltado competência, equilíbrio emocional e sorte, mas verba não faltou. O último ciclo olímpico (2005-2008), que culminou com a Olimpíada de Pequim, foi o que mobilizou maiores recursos federais em favor do esporte brasileiro, a título de preparação para a maior competição do esporte mundial. As estatísticas apontam que mais de R$ 650 milhões foram gastos em prol do esporte olímpico. O dinheiro é contabilizado por meio dos recursos das loterias, das empresas estatais, do fundo de incentivo fiscal e do Ministério do Esporte, com o Programa Brasil no Esporte de Alto Rendimento, o Brasil Campeão, que inclui o bolsa-atleta. Com isso, cada uma das 13 medalhas conquistados pelo País na China (excluindo as duas do futebol, que não recebe dinheiro público) custou cerca de R$ 50,4 milhões aos cofres públicos.

Entre 2005 e 2008, o montante investido no esporte brasileiro, R$ 654,7 milhões, é procedente de diversas fontes: R$ 265,7 milhões destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) por meio da lei das loterias criada em 2001, que obriga o destino de 2% das loterias federais aos comitês Olímpico e Paraolímpico brasileiros; R$ 34,4 milhões oriundos da lei de incentivo ao esporte, aprovada em 2006 e que concede isenção fiscal à pessoa física ou jurídica que fizer doação a um projeto esportivo; R$ 247,9 milhões de patrocínios das empresas estatais e mais de R$ 107 milhões aplicados pelo governo federal no Programa Brasil no Esporte de Alto Rendimento.

Parte do dinheiro computado pela lei de incentivo fiscal ao esporte foi destinado às confederações de boxe (R$ 4,8 milhões), de judô (R$ 1,9 milhão) e de tênis de mesa (R$ 564,5 mil), para o Minas Tênis Clube (pouco mais de R$ 1 milhão), além de R$ 26 milhões para o COB. Já entre os patrocínios das estatais estão os R$ 42 milhões e os R$ 5,9 milhões destinados pela Caixa Econômica Federal ao atletismo e à ginástica, os R$ 38 milhões dos Correios para a natação, os R$ 40 milhões da Eletrobrás para o basquete, os R$ 10 milhões da Infraero ao judô, os R$ 11,2 milhões pagos pela Petrobras ao handebol e os cerca de R$ 100 milhões do Banco do Brasil para o vôlei.

Com a proximidade dos Jogos Olímpicos de Pequim, o Programa Brasil no Esporte de Alto Rendimento, o Brasil Campeão, foi o segundo programa mais bem contemplado pelo Ministério do Esporte esse ano, com R$ 51,1 milhões recebidos. O programa tem o objetivo de aperfeiçoar atletas de alto rendimento a partir da implantação de centros de treinamento; modernizar centro científico e tecnológico para o esporte e implantar infra-estrutura para a prática desportiva nas instituições de ensino e entidades parceiras, beneficiando o esporte educacional. A verba também é usada, entre outros fins, para custear o sistema de avaliação de atletas, o pagamento de quase três mil bolsas e para a promoção e participação de 1,2 mil atletas portadores de deficiência.

Os resultados conquistados pelo Brasil em Pequim, inferiores em termos de medalhas de ouro aos de Atenas, vão certamente provocar inúmeras discussões. Segundo diversos especialistas, como José Cruz, da editoria de esportes do Correio Braziliense, embora não se pretenda que a política esportiva do Brasil seja dirigida apenas para a formação de atletas - o prioritário é que a educação esportiva ajude na formação do cidadão, na saúde e na inclusão social - a ampliação "da base da pirâmide" do esporte de alto rendimento depende da estreita relação entre o esporte e a educação, assim como acontece nos Estados Unidos, na China e em Cuba (apesar de não ter sido destaque em Pequim). Nestes países, os talentos esportivos são descobertos nas escolas e, desde cedo, as crianças são treinadas para evoluir nas modalidades que praticam.

Outra crítica levantada por Cruz é de que os recursos atualmente disponíveis para o COB e às confederações esportivas estão concentrados no “topo da pirâmide”, sendo injetados, quase que exclusivamente, em atletas de ponta, já consagrados. "Ao contrário do que ocorria em décadas passadas, não faltam recursos ao desporto nacional, mas sim gestão e fixação de prioridades. O desporto na base sofre com a falta de verba, além da educação fisíca nas escolas ser praticamente inexistente", afirma Cruz. Isso contraria a própria Constituição Federal, que afirma que é “dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento”.

Diante da discussão, alguns parlamentares, como o deputado Miro Teixeira, pretendem levar o debate em torno da questão da aplicação dos recursos no esporte brasileiro ao Congreso, inclusive com a criação de uma CPI. O presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, prefere não comentar sobre as aplicação globais da União em favor do esporte de alto rendimento, tendo em vista que gerencia apenas os recursos provenientes das loterias, cuja a distribuição é divulgada e auditada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O presidente do COB destaca a expansão do esporte brasileiro citando medalha obtida no taekwondo, a particação do Brasil em 38 finais (contra 30 em Atenas) e a participação da delegação feminina. O presidente afirma não temer a eventual realização de uma CPI. Ele argumenta que tais questionamentos são comuns em períodos pós jogos olímpicos.

Os recursos destinados ao ciclo das Olimpíadas de Atenas 2004 para o esporte brasileiro somaram cerca de R$ 280 milhões, ou seja, menos da metade do desembolsado com os jogos de Pequim. Na Grécia, com a presença de uma delegação de atletas menor (247 contra 277 este ano), o Brasil fez a melhor campanha de todos os tempos com a conquista de cinco ouros. No entanto, somando todas as medalhas conquistadas naquele ano, 10 no total, o custo aos cofres públicos foi mais barato; alcançou a cifra de R$ 28 milhões por medalha.

Vale ressaltar que os valores aplicados no esporte de alto rendimento considerados poderiam ser ainda maiores caso fossem incluídos os gastos e os investimentos feitos pelo Ministério do Esporte com o Programa Rumo ao Pan 2007. Criado em 2004, o programa recebeu apenas dos cofres da pasta quase R$ 1 bilhão para ser aplicado na realização do evento no Rio de Janeiro.

Leandro Kleber
Do Contas Abertas

domingo, 24 de agosto de 2008

Com mão de ferro, China "maquia" problemas de Pequim nos Jogos


da Folha Online

Com mão de ferro, o governo chinês conseguiu maquiar o quadro caótico de poluição, calor, falta de liberdade de imprensa e vigília constante às ações da população local e dos estrangeiros desenhado antes do início dos Jogos Olímpicos de Pequim.

Após ter problemas com altos índices de poluição e com uma série de protestos a favor da causa tibetana durante a volta da tocha olímpica pelo mundo, o governo de Pequim resolveu agir e montou um esquema especial para esconder alguns problemas.

Para evitar que a capital chinesa se transformasse em um palco de manifestações por inúmeras causas, a polícia foi à casa de diversos ativistas nas semanas anteriores à Olimpíada pedindo que eles saíssem da capital.

Quem não aceitou o exílio voluntário acabou preso --havia pelo menos 30 pessoas em prisão domiciliar durante os Jogos.

Oficialmente, a China até abriu a possibilidade da realização de protestos durante o evento. Quem quisesse fazer uma manifestação, precisaria fazer um pedido público. Foram 77 reivindicações, nenhuma autorizada.

Segundo o Departamento de Segurança, 74 casos foram amigavelmente resolvidos, dois rejeitados por problemas de procedimento e um por envolver crianças.

O processo de "maquiagem" contou ainda com a participação da imprensa local. Um documento divulgado logo no início da Olimpíada pelo diário independente "South China Morning Post" mostrava uma lista de 21 proibições que as autoridades chinesas fizeram aos órgãos do país.

Entre os assuntos vetados estavam protestos, problemas de segurança ou qualquer emergência que ocorresse em uma competição. A lista também vetava qualquer reportagem sobre a censura à internet que vigora na China.

A censura a alguns sites foi um dos problemas enfrentados pelos jornalistas estrangeiros antes do início dos Jogos. Ao contrário do que havia prometido o COI (Comitê Olímpico Internacional), o Governo chinês bloqueou alguns conteúdos. As restrições foram caindo aos poucos, depois de inúmeras reclamações.

Ambiente

O processo de maquiagem chinês não se limitou a questões políticas e ideológicas, mas também a problemas ambientais, como o clima e a poluição de Pequim, uma das cidades com pior qualidade do ar do mundo.

Segundo dados oficiais, a China está entre os primeiros da lista de maiores emissores de gases-estufa do planeta, situação que fez delegações de atletas levarem máscaras para a China e adotarem uma série de medidas médicas.

Para evitar maiores problemas, o governo local instituiu uma série de medidas, como um rodízio mais rigoroso de automóveis, a retirada de 300 mil veículos poluidores e o fechamento de várias fábricas situadas nas imediações de Pequim, além da construção de linhas de metrô e o incentivo para que 32 mil pessoas mudassem o aquecimento à base de carvão de suas casas.

Segundo o Programa para o Meio Ambiente da ONU (Organização das Nações Unidas), as medidas ajudaram a qualidade do ar de Pequim a "melhorar significativamente".

A tecnologia não foi utilizada apenas para diminuir os índices de poluição, mas também para manipular o clima e não prejudicar a competição.

O birô meteorológico de Pequim informou que disparou 1.104 foguetes para dispersar nuvens e evitar a chuva durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, realizada no dia 8 de agosto.

Folha OnLine

sábado, 23 de agosto de 2008

Cientistas estão mais perto de 'capa da invisibilidade'

Cientistas da Universidade da Califórnia, em Berkeley, anunciaram que estão mais perto de criar um material que pode tornar objetos tridimensionais "invisíveis".

Os pesquisadores desenvolveram dois materiais que podem reverter a direção da luz em torno dos objetos, fazendo com que eles "desapareçam".

Os chamados meta-materiais não existem normalmente na natureza e foram criados em uma escala nano, medidos em bilionésimos de metro. Eles são estruturas criadas artificialmente, com propriedades óticas que fazem a luz "se dobrar" de forma não natural.

Como a luz não é absorvida nem refletida pelo objeto, é possível vê-la por trás dele, iluminando o que normalmente estaria escondido por ele - tornando o objeto invisível.

Os pesquisadores explicam que o material funciona como "água passando em em torno de pedras".

Refração

Os meta-materiais têm propriedades de "refração negativa" - nos materiais naturais, o índice de refração é sempre positivo. Refração é a passagem da luz por um objeto ou meio, na qual a velocidade da luz é alterada. Um bom exemplo é a passagem da luz através da água. A refração da luz na água faz com que as distâncias e tamanhos pareçam alterados.

Um dos meta-materiais é feito de metais e tem a estrutura semelhante a uma rede de pesca colocadas em várias camadas. Ele se torna transparente numa ampla gama de comprimentos de onda luminosa e reverte a direção da luz. O outro usa minúsculos fios de prata dentro de óxido de alumínio poroso, colocados a uma distância mínima um do outro.

Por enquanto, os cientistas acreditam que a descoberta poderá ser usada em lentes microscópicas, mas eles afirmam que os princípios dos materiais poderiam ser aplicados em maior escala para criar "capas de invisibilidade" grandes o suficiente para esconder pessoas.

As pesquisas lideradas pelo cientista Xiang Zhang serão publicadas nesta semana nas revistas especializadas Nature e Science.

O estudo foi financiado pelo governo americano e poderá, um dia, ser usado em operações militares, fazendo, por exemplo, com que tanques desapareçam frente ao inimigo.

UOL Ciência e Saúde

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Parlamentares defendem criação de cotas para parentes com qualificação

RENATA GIRALDI
GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília

Depois da aprovação do fim do nepotismo pelo STF (Supremo Tribunal Federal), senadores passaram a defender abertamente a flexibilização da decisão do tribunal para incluir exceções à regra. Além dos ministros de Estado, secretários estaduais, municipais e do Distrito Federal, os parlamentares querem a autorização de manter parentes em funções de confiança. A idéia de criar uma cota para parentes ganha adeptos.

Pela proposta do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), deveria ser criada uma cota destinada exclusivamente para garantir vagas para parentes. "Eu defendo sim", disse ele, informando que não arriscaria dizer qual seria o percentual ideal: se 10% ou menos.

"É importante ter uma qualificação. Não posso pegar um motorista e colocar no cargo de um assessor mais alto", disse Mozarildo, que confirmou empregar três familiares em Brasília (DF) e Boa Vista (RR).

"Enquanto não há uma norma proibindo, eu uso o critério da lógica: dos cargos 20 funcionários, três são parentes. Antes não tinha nada que dizendo que não podia. Mas é preciso acabar com abusos, eu reconheço", disse o petebista.

Desde quarta-feira circulam informações no Congresso sobre a possibilidade de criar uma cota para parentes. Ontem, o vice-líder do DEM no Senado, Heráclito Fortes (PI), confirmou ter ouvido comentários sobre a alternativa que estaria sendo articulada.

O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), admitiu que teria de demitir seu sobrinho que é funcionário do gabinete de apoio da presidência. Já o primeiro-secretário do Senado, Efraim Morais (DEM-PB), disse que aguarda apenas a publicação da súmula vinculante do STF para exonerar seis sobrinhos empregados em Brasília e João Pessoa (PB).

O senador Adelmir Santana (DEM-DF), que emprega a filha como secretária em seu gabinete em Brasília, lamentou a decisão do STF, enquanto o deputado Pompeo de Matos (PDT-RS) confirmou que vai demitir o sobrinho que trabalha para ele.

Folha On Line

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Igreja Universal é condenada a devolver doações de fiel mentalmente incapaz



O TJ-MG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais) condenou a Igreja Universal do Reino de Deus a devolver a um fiel, pelo fato de ser incapaz, todos os dízimos e doações realizadas desde 1996, em valor a ser apurado em liquidação de sentença. A igreja ainda foi condenada a indenizar o incapaz por danos morais em R$ 5 mil.

A decisão, por unanimidade da 13ª Câmara Cível, confirmou a condenação da igreja em primeira instância. No julgamento, o relator do processo, desembargador Fernando Botelho, considerou que o fiel não tinha “condições de manifestar, à época dos fatos, livremente a sua vontade, já que à mesma época (quando da emissão dos cheques de doação à igreja) apresentava discernimento reduzido, os negócios jurídicos ali realizados são nulos”.

“A instituição religiosa que recebe como doação valor muito superior às posses do doador, sem a devida cautela, responde civilmente pela conduta desidiosa”, afirmou também o relator.

O desembargador ainda entendeu que a interdição do incapaz apenas veio confirmar situação pré-existente. Segundo ele, não há dúvidas de que, “mesmo antes de 1996, ano em que o autor passou a freqüentar as dependências da igreja e a fazer-lhe doações, já apresentava grave quadro de confusão mental, capaz de caracterizar sua incapacidade absoluta, já que, no laudo pericial, restou consignado que ele não reunia discernimento suficiente para a realização dos atos da vida civil”.

De acordo com informações do tribunal, o laudo pericial psiquiátrico aponta que o fiel é portador de enfermidade mental de caráter permanente. Ele passou a freqüentar a Igreja Universal em 1996, onde era induzido a participar de reuniões que sempre incluíam contribuição financeira.

No processo é relatado que as colaborações passaram a tomar todo o seu salário de zelador e, em virtude do agravamento de sua doença, foi afastado do trabalho, quando então passou a emitir cheques pré-datados para fins de doação à igreja. Ele ainda tomou empréstimo junto à instituição bancária e vendeu um lote por um valor irrisório, tudo para fazer doação à instituição religiosa.

Segundo a inicial do processo, “promessas extraordinárias” eram feitas ao incapaz na igreja, em troca de doações financeiras e dízimo. Qualquer pessoa que tentasse lhe mostrar ou argumentar que ele estava sendo enganado era denominada de “demônio”, contra o qual tinha que lutar, como lhe foi dito e ensinado na pregação dos pastores da igreja. Sua mãe, então, seria o principal “demônio”.

O juiz da 17ª Vara Cível de Belo Horizonte ponderou que a incapacidade permanente do fiel só se deu a partir de 2001, quando houve sua interdição. Dessa forma, entendeu que a igreja não poderia restituir valores de doação anteriores àquele ano, motivo pelo qual estipulou em R$ 5 mil o valor que deveria ser devolvido. O juiz de 1ª Instância condenou a igreja também a indenizar o fiel em mais R$ 5 mil, por danos morais. Diante da decisão, as partes recorreram ao TJ-MG.

Uol Notícias

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

"Burnout": a síndrome do desânimo no trabalho.











Tatiana Pronin
Editora do UOL Ciência e Saúde

Estima-se que 30% dos trabalhadores brasileiros sejam portadores da síndrome, que foi tema central do 8º Congresso da Isma-Br (International Stress Management Association), realizado esta semana em Porto Alegre (RS).


O termo "burnout" deriva da expressão em inglês que significa queimar-se. Ou seja, quem sofre do problema é consumido pelo esgotamento. Batizada pelo psicanalista americano Herbert Freudenberger, no início dos anos 70, a síndrome tem como sintomas a exaustão física e mental, a falta de perspectivas (que muitas vezes se traduz como cinismo) e a ineficiência no trabalho.

"A pessoa não falta, porque não quer perder o emprego, mas fica mentalmente ausente", descreve a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma-Br. É o que os especialistas chamam de "presenteísmo", fenômeno que causa mais prejuízos para a empresa do que o absenteísmo.

Pessoas que trabalham com a proteção de pessoas ou bens, como policiais, bombeiros e seguranças particulares, são as principais vítimas de esgotamento profissional, segundo a associação. Em segundo lugar, aparecem os motoristas de ônibus urbanos, pelo caráter repetitivo do trabalho, a pressão do tempo e o trânsito. Em terceiro, bancários e controladores de vôo, seguidos por executivos, profissionais de saúde e funcionários de call centers, nessa ordem. Por último, há uma categoria ampla: gente que é obrigada a trabalhar fora de sua área de atuação.

Homens e mulheres

O estresse e o "burnout" não escolhem sexo, embora as mulheres sejam mais propensas a procurar ajuda antes, como explica Rossi. Segundo um estudo realizado com 900 profissionais (metade de cada sexo) e apresentado no congresso, as fontes de esgotamento físico e mental no trabalho são as mesmas para eles e elas, só ocupam posições diferentes.

Entre os homens, a incerteza em relação ao futuro é o aspecto mais difícil de se lidar. Já para as mulheres, é a sobrecarga de trabalho a principal causa de estresse, já que, muitas vezes, elas acumulam ainda as tarefas de mãe e donas-de-casa. A dificuldade em lidar com outras pessoas já tem um impacto menor para as mulheres, enquanto que, para os homens, é o segundo principal fator de desgaste. A falta de controle sobre a carga de trabalho é o único item que tem o mesmo peso para ambos os sexos.

TESTE: Saiba se você sofre de "burnout", a síndrome do esgotamento profissional

Saídas

Para vencer o "burnout", a saída é buscar ajuda de um terapeuta e encontrar novas estratégias para lidar o excesso de demandas, já que nem sempre é possível trocar de emprego.

Para outro palestrante do congresso, o professor de saúde pública Brian Oldenburg, da Universidade Monash, em Melbourne, na Austrália, as empresas podem e devem participar do processo. Segundo ele, 60% das pessoas que sofrem de ansiedade ou depressão continuam trabalhando, por medo de perder o emprego. "Se o problema fosse detectado a tempo, todos sairiam ganhando", diz.

Para ele, a prevenção do estresse e do "burnout" envolve uma mudança profunda nos ambientes de trabalho, com iniciativas que vão muito além dos programas antiestresse. "Não adianta abrir uma academia ou uma 'sala de descompressão' na empresa, se não houver abordagem individual e adaptada à cultura de cada organização", defende.

O "burnout" pode se manifestar de formas variadas, mas alguns dos sintomas abaixo, em conjunto, podem ser indício da síndrome:

- desinteresse e apatia crônicos;
- sintomas gerais de estresse, como fadiga física e mental, dores de cabeça, problemas gástricos e mal-estar;
- perda do rendimento no trabalho;
- irritabilidade;
- falta de concentração;
- baixa auto-estima;
- despersonalização;
- falta de perspectivas em relação ao futuro;
- sensação de que a gratificação no trabalho não condiz com os esforços realizados;
- abuso de álcool, drogas, tabaco ou cafeína;
- cinismo e impaciência com os outros.

UOL Ciência e Saúde

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Araguaia-Tocantins: governos querem construir 80 novas hidrelétricas na região.

Hidrelétrica é só uma das várias obras previstas para a região
A meta é criar uma infraestrutura robusta para exportação. Pesquisadores e ativistas questionam os motivos.



Há cerca de 80 usinas hidrelétricas previstas para a Bacia do Araguaia-Tocantins. Governos estaduais sonham com infra-estrutura robusta para exportação. Pesquisadores e ativistas questionam finalidade real das usinas

Texto: Beatriz Camargo

O Rio Tocantins será uma sucessão de barragens e lagos de águas paradas caso os planos governamentais e empresariais sejam cumpridos. Há cerca de 80 usinas hidrelétricas previstas para a Bacia do Araguaia-Tocantins: 12 delas no próprio Tocantins, sete no Araguaia e uma seqüência de dúzias de barragens nos afluentes à montante - mais próximas da nascente dos rios.

O governo estadual do Tocantins, que tem dez dos 12 municípios atingidos pela Usina Hidrelétrica (UHE) de Estreito, comemora a conclusão de um trecho de 400 km navegáveis do Rio Tocantins. Em maio, o governador Marcelo Miranda (PMDB) fez uma viagem experimental para "provar" a navegabilidade do rio. O secretário de Indústria e Comércio, Eudoro Guilherme Pedroza, ressalta que é necessário construir eclusas nas barragens recém-finalizadas para aumentar ainda mais o trecho navegável e chegar à plenitude do transporte "multimodal", que conecta barcos, trens e caminhões. O governo federal já anunciou a construção da eclusa da UHE Lageado, esticando ainda mais a "estrada" fluvial.

"Com a hidrovia finalizada e a construção da Ferrovia Norte-Sul, será possível ligar regiões produtoras de soja, como Pedro Afonso, aos portos de Belém [no Pará] e Itaqui [no Maranhão]", anuncia o secretário. "Estaremos mais perto da Europa e dos EUA, muito mais perto. Hoje vamos para o porto de Santos [em São Paulo, para exportar], que está congestionado". Segundo Eudoro, a Hidrovia Araguaia-Tocantins é "solução" para o Brasil. "Para levar soja, óleo de soja, etanol, celulose, tudo mais barato para exportar. A idéia é fazer o máximo das etapas na região para aumentar a geração de empregos".

O secretário admite ainda que os empregos gerados pelas obras da Usina de Estreito são temporários, mas tem um palpite de que os trabalhadores poderão se deslocar para outras obras de infra-estrutura na região. "Terminando aqui eles podem ir construir [a Usina Hidrelétrica de] Belo Monte. Tem a Ferrovia Norte-Sul, que também gera milhares de empregos. Depois vamos construir as eclusas, ou seja, vamos continuar gerando muitos postos de trabalho".

Os governos do Tocantins e do Maranhão atuam conjuntamente para tentar fazer da região um grande pólo exportador. O Fórum Permanente do Corredor Centro-Norte, idealizado pelo governo Jackson Lago, reúne Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Piauí e Tocantins. As prioridades atuais do grupo de governadores são justamente a Usina Hidrelétrica de Estreito e a Ferrovia Norte-Sul. A palavra de ordem do fórum é trazer grandes obras para a região que facilitem o escoamento de produtos (industrializados ou não).

Deslocamentos

Duas das hidrelétricas previstas para o Rio Tocantins devem afetar diretamente populações indígenas, que perderão territórios regularizados com o enchimento do lago. Uma delas é Serra Quebrada, no município de Itaguatins (TO), que vai deslocar duas aldeias da Terra Indígena (TI) Apinajé.

Representantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no Tocantins dizem que os Apinajés estão muito preocupados com a Usina de Serra Quebrada (leia Parte III), sobretudo nas duas aldeias que serão desalojadas. Eles prometem resistir bravamente. "O fazendeiro vizinho pode até gostar da terra, mas no dia em que sair, ele vai desmatar e grilar em outro lado. O povo indígena nunca vai sair daqui", resume o Antônio Veríssimo, liderança Apinajé.

No Araguaia, as barragens previstas causarão impacto em outras populações indígenas que vivem à beira do rio, e o modo de vida da Ilha do Bananal, uma das maiores ilhas fluviais do mundo. Localizada no Tocantins, a ilha está na divisa com Goiás, Mato Grosso e Pará, e abriga duas TIs - Carajás e Javaés - além do Parque Nacional do Araguaia.

A UHE Marabá está em estudo de viabilidade, a cargo da estatal federal Eletronorte. A obra prevê o deslocamento de cerca de 40 mil pessoas - entre elas indígenas da TI Gavião, no Maranhão. Para o Movimento doa Atingidos por Barragens (MAB), o número de atingidos seria ainda maior. Glenn Switkes, coordenador de campanhas da International Rivers Network na América Latina, avalia que, "se acontecer [a construção da usina], será o maior deslocamento forçado de populações desde o fim da ditadura militar. Talvez apenas as hidrelétricas Sobradinho (BA) e Itaparica (PE) [construídas na década de 70] tenham implicado em deslocamentos maiores".

Questão maior

A mobilização da população em função da Usina de Estreito propiciou alguns avanços, na opinião de Cirineu da Rocha, coordenador do MAB no Tocantins. Ele acredita, porém, que é preciso tratar da questão energética do país como um todo para enfrentar futuras obras do mesmo gênero. "Agora estamos contra Estreito, que tem vários problemas de licenciamento e muita coisa errada. Mas vemos isso como uma questão maior", complementa Sara Sanchez, coordenadora do Cimi da regional Goiás/Tocantins.

Com o controle por meio de barragens, a navegação no Rio Tocantins será completa, da Serra da Mesa (GO) a Tucuruí (PA). Em conjunto com outros projetos de infra-estrutura como a Ferrovia Norte Sul, a capacidade de escoamento da produção das regiões Norte e Centro-Oeste será expandida. "Assim como o complexo [da Usina de] Tucuruí [no Pará], os complexos Madeira [em Rondônia] , Belo Monte [também no Pará] e Araguaia-Tocantins pretendem ser eixos energéticos e viários, potencializadores da plataforma de exportação baseada em nossos recursos naturais", expõe o professor da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Luís Fernando Novoa.

Para o pesquisador, o modelo agroexportador condena o Brasil a uma posição "subordinada e cristalizada". "Não há como discutir sobre o mérito de um projeto ou de um programa de infra-estrutura se não respondermos previamente à questão básica: ´energia e transporte para que e para quem?´."

Glenn, da International Rivers Network, reforça. "No Brasil, ninguém poderia dizer que vai faltar energia: hoje 30 mil MW de potência estão em licenciamento do Ibama [Instituo Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] , montante que representa um terço do que o Brasil já tem de energia, sem incluir os projetos binacionais". A demanda pela expansão, explica, vem principalmente de empresas eletrointensivas, como Alcoa, Vale, indústrias de níquel e metalúrgicas. "A instalação de novas fábricas depende do aumento da oferta energética. A Alcoa, por exemplo, está fechando fábricas em vários países. O recado deles para o governo é: enquanto houver energia barata, ficaremos aqui. Se não, vamos embora".

Autoprodução

Grande parte das hidrelétricas construídas no Brasil funcionam no sistema de autoprodução, ou seja, a empresa que constrói a barragem produz energia para consumo próprio. No caso da UHE Estreito, o modelo é de "autoprodução transportada": a energia gerada, em vez de ser consumida exclusivamente pelo consórcio de empresas que constrói e administra a obra, pode entrar no sistema elétrico geral e será depois descontada - conforme o consumo das empresas e considerando sua porcentagem de participação relativa no consórcio.

As empresas do Consórcio Estreito Energia (Ceste) também podem comercializar energia, utilizando-se do sistema de distribuição da União, e comprar de outra fornecedora que esteja mais próxima de suas unidades de produção. Para o professor do Instituto de Energia e Eletrotécnica da Universidade de São Paulo (IEE/USP), Célio Bermann, esse procedimento abre a possibilidade para que as empresas possam ter ganhos em cima do funcionamento do modelo, porque elas ficam mais livres para comercializar e usam o serviço de "transporte" de energia mantido pelo poder público.

"Normalmente, o autoprodutor é caracterizado como produtor independente de energia. Nessa nova forma, o produtor faz uso da rede de transmissão elétrica e não paga por isso. Ele deveria pagar, mas, ao fazer o contrato de concessão, em geral grandes empresas conseguem benefícios e isenção de tributos, o que acaba anulando a taxa de uso da rede de transmissão", elucida Célio.

O professor explica que é sob esse argumento que as empresas mascaram a destinação da energia como de interesse nacional. "Elas podem anunciar ´nós produzimos energia para o país´, porque a energia produzida cai na linha de transmissão. Mas [no final de todo o processo, essa mesma energia] vai para as indústrias eletrointensivas delas mesmas".

Em resposta, o Ceste informa que a energia da UHE Estreito "será totalmente integrada ao Sistema Interligado Brasileiro, que permite escoar a energia de Norte a Sul-Sudeste-Centro-Oeste, sendo parcialmente consumida pelo consórcio e parcialmente comercializada no mercado de energia elétrica".

Interesses

Para Luís Novoa, a atual onda de grandes projetos de infra-estrutura é muita distinta da anterior, ocorrida durante a ditadura militar, porque agora o setor elétrico está quase totalmente privatizado. "O resultado é que a energia, além de se converter plenamente em uma commodity, é também encarada como fator de atração de investimentos, em grande parte de transnacionais. Por isso mesmo esses projetos estão sendo gerenciados na forma de parcerias público-privadas. As subsidiárias da Eletrobrás e o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] atuam no sentido de reduzir custos e incertezas dos investidores privados do setor".

No caso de Estreito, o BNDES financiou R$ 2,6 bilhões, ou 72,6% do valor total do projeto, que é de R$ 3,6 bilhões. "O financiamento dá uma idéia de como os custos são socializados, porque o BNDES é um banco público, enquanto os benefícios são privados", critica o professor Célio Bermann, do IEE/USP.

Apesar da origem público do dinheiro que financia as grandes obras, Glenn Switkes destaca que não há um debate mais amplo com a população sobre a implementação desses projetos. "Os interesses econômicos e políticos estão acima de todas as coisas. Se há alguma oposição, dizem que o Brasil precisa de energia. Qualquer protesto é visto como baderna e não é levado a sério", constata.

"Os novos projetos atropelam direitos de milhares de pessoas, de povos indígenas, sem nenhuma discussão sobre o projeto energético brasileiro. Os direitos das populações regionais não valem nada", critica Glenn. Ela observa que o Ibama está enfraquecido e os agentes públicos preopcuados com o interesse público se sentem impotentes. "Eles podem até discutir algumas coisas, mas não vão comprar nenhuma briga com um empreendimento"

A avaliação do procurador Pedro Henrique Castelo Branco, do Ministério Público Federal (MPF) em Imperatriz (MA) é parecida: o Ibama tem se mantido "inerte" com relação à fiscalização e o licenciamento dos empreendimentos hidrelétricos. "O órgão precisa se fazer presente para aferir se o particular - no caso, o consórcio - está ou não cumprindo as condicionantes."

De acordo com Célio Bermann, o próprio formato das audiências públicas mostram que não há espaço para questionamentos. São concedidos dois terços do tempo para a empresa apresentar o projeto. "A população não tem tempo para contestar e trazer suas opiniões. Há uma manipulação muito grande e isso faz com que o resultado efetivamente não seja incorporado".

Mesmo assim, o professor Célio não deixa de considerar as brechas existentes. "Durante a ditadura, a decisão era impositiva. O contexto político atual permite que a vontade das empresas não se concretize tão rapidamente como elas gostariam... Os interesses podem até se concretizar, mas dá mais trabalho: tem várias mobilizações, ações do Ministério Público, etc."

Alternativas

Os especialistas em energia não tem dúvidas de que seria possível evitar a construção da UHE Estreito e de outras hidrelétricas de grande porte planejadas para a Região Norte. O exemplo norte-americano da Califórnia - onde a economia cresceu de 3% a 4% entre 1996 e 2006, enquanto o crescimento da demanda por energia caiu de 7% para 2% no período - desmonta o argumento de que crescimento pressupõe aumento de produção energética.

"A Califórnia cresceu duas décadas sem construir nenhuma hidrelétrica porque houve repotencialização e outras medidas. Mas isso acontece num lugar em que o governo avalia os impactos negativos causados pelas usinas. Aqui o governo acha que as hidrelétricas são a melhor coisa do mundo. Outro modelo [energético] seria muito mais interessante, do ponto de vista da distribuição de renda e desenvolvimento", pondera Glenn Switkes.

O professor Luís Fernando, da Unir, alerta que, se não for revisto o modelo de distribuição e consumo de energia no país (que prioriza o fornecimento ao setor exportador de bens primários ou básicos, de baixo valor agregado), "não haverá limite para o uso e abuso dos nossos recursos naturais e das nossas bacias hidrográficas". Ele defende um esforço para o desenvolvimento de tecnologias poupadoras de energia e a regulação mais severa, por mecanismos tarifários, de produtos que consomem muita energia.

Luís propõe também que, antes de instalar "a toque de caixa" grandes hidrelétricas, cerca de 70 usinas com mais de 20 anos no país sejam repontencializadas, com novas turbinas e linhas de transmissão. "Com esse dever de casa bem feito, não precisaríamos construir as usinas no Rio Madeira, nem Belo Monte ou Estreito. Pelo menos não agora e muito menos da forma como pretendem fazê-lo", conclui.

A "Plataforma Socioambiental Brasil 2008" divulgada pelo Grupo de Trabalho de Energia do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS) indica, além da repontencialização de usinas antigas, a instalação de um programa de otimização do potencial instalado, para reduzir perdas na transmissão e distribuição energéticas. Também aconselha a adoção de um programa nacional de energia solar térmica, que possa substituir os sistemas de aquecimento elétrico de água das residências.

"É necessário que o Estado reassuma sua função de planejador do setor energético, fortaleça seu papel regulador, garanta o controle da demanda, a oferta e a qualidade dos serviços prestados e priorize o atendimento da população aos interesses das indústrias exportadoras de energia e recursos naturais", conclui o relatório do FBOMS.


segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Você sabe negar ajuda? Diga "não" sem enfurecer seu chefe e seus colegas.






SÃO PAULO
- Existem dois tipos de profissionais que nunca dizem "não", de acordo com a diretora da RMML Consultoria de Imagem Corporativa, Renata Mello. O primeiro é aquele que faz o possível para ser o cara legal, na busca por aceitação social e inserção no grupo. "Ele sempre quer ajudar todo mundo. O problema é que as pessoas acabam abusando do profissional com perfil bonzinho", explica.



"O bonzinho pode ser competente, mas dificilmente é valorizado, porque é visto como alguém que não tem postura firme. Ele acha que está fazendo bonito, mas não está. E o pior: se algo dá errado, a culpa recai sobre ele", garante a consultora.

Segundo Renata, esse tipo de pessoa não deveria se esforçar tanto para agradar aos outros. "No ambiente profissional, demora mesmo certo tempo para sermos aceitos pelo grupo de trabalho. É uma fase. A interação deve se dar no almoço, na hora do café, em um momento informal", recomenda.

Medo de enfrentar o outro

O outro tipo que nunca diz não é aquele que simplesmente não sabe enfrentar as pessoas. Muitas vezes, por medo de perder o emprego. Ele sabe que, se ajudar o colega ou o chefe, será em detrimento de suas responsabilidades próprias.

"Esse tipo de profissional precisa ter postura e lembrar quais são suas prioridades. Uma forma elegante de dizer não é passando uma orientação de como a tarefa pode ser realizada. Diga: eu não posso te ajudar agora, pois tenho prazos a cumprir, mas, se você fizer desse jeito, será mais fácil", aconselha a diretora da RMML.

Quando é impossível dizer não

Para o gerente da Robert Half, Fábio Saad, poucas pessoas estão preparadas para dizer não. "A cultura do brasileiro é de ajudar sempre, ainda que não possa. É preciso ter frieza para recusar ajuda. O fato é que, quando um funcionário não diz não, seu desempenho fica comprometido. As conseqüências são negativas".

Entretanto, segundo ele, há momentos em que não se pode, sob hipótese alguma, dizer não. Daí a importância de perceber o contexto. Se seu chefe passa uma tarefa que é prioridade, que não pode ser prorrogada, é melhor aceitá-la. Vamos supor que algo dê errado e seu gerente peça ajuda. Antes de dizer não, analise: o que vai acontecer se eu não ajudá-lo? Ao dizer sim, é provável que ele mude suas prioridades, o que significa que seus compromissos não serão prejudicados.

Seja como for, a regra número um é: sempre deixe claro o motivo de não ajudar. Não deixe os outros pensarem que está fazendo "corpo mole", o que de fato pode arruinar sua reputação na empresa. Lembre-se também que, muitas vezes, é necessário abrir uma exceção e ficar até mais tarde no trabalho. O que os especialistas alertam é que não se deve deixar seus compromissos de lado. Portanto, antes de ajudar as pessoas, cumpra seus prazos!

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