domingo, 24 de agosto de 2008

Com mão de ferro, China "maquia" problemas de Pequim nos Jogos


da Folha Online

Com mão de ferro, o governo chinês conseguiu maquiar o quadro caótico de poluição, calor, falta de liberdade de imprensa e vigília constante às ações da população local e dos estrangeiros desenhado antes do início dos Jogos Olímpicos de Pequim.

Após ter problemas com altos índices de poluição e com uma série de protestos a favor da causa tibetana durante a volta da tocha olímpica pelo mundo, o governo de Pequim resolveu agir e montou um esquema especial para esconder alguns problemas.

Para evitar que a capital chinesa se transformasse em um palco de manifestações por inúmeras causas, a polícia foi à casa de diversos ativistas nas semanas anteriores à Olimpíada pedindo que eles saíssem da capital.

Quem não aceitou o exílio voluntário acabou preso --havia pelo menos 30 pessoas em prisão domiciliar durante os Jogos.

Oficialmente, a China até abriu a possibilidade da realização de protestos durante o evento. Quem quisesse fazer uma manifestação, precisaria fazer um pedido público. Foram 77 reivindicações, nenhuma autorizada.

Segundo o Departamento de Segurança, 74 casos foram amigavelmente resolvidos, dois rejeitados por problemas de procedimento e um por envolver crianças.

O processo de "maquiagem" contou ainda com a participação da imprensa local. Um documento divulgado logo no início da Olimpíada pelo diário independente "South China Morning Post" mostrava uma lista de 21 proibições que as autoridades chinesas fizeram aos órgãos do país.

Entre os assuntos vetados estavam protestos, problemas de segurança ou qualquer emergência que ocorresse em uma competição. A lista também vetava qualquer reportagem sobre a censura à internet que vigora na China.

A censura a alguns sites foi um dos problemas enfrentados pelos jornalistas estrangeiros antes do início dos Jogos. Ao contrário do que havia prometido o COI (Comitê Olímpico Internacional), o Governo chinês bloqueou alguns conteúdos. As restrições foram caindo aos poucos, depois de inúmeras reclamações.

Ambiente

O processo de maquiagem chinês não se limitou a questões políticas e ideológicas, mas também a problemas ambientais, como o clima e a poluição de Pequim, uma das cidades com pior qualidade do ar do mundo.

Segundo dados oficiais, a China está entre os primeiros da lista de maiores emissores de gases-estufa do planeta, situação que fez delegações de atletas levarem máscaras para a China e adotarem uma série de medidas médicas.

Para evitar maiores problemas, o governo local instituiu uma série de medidas, como um rodízio mais rigoroso de automóveis, a retirada de 300 mil veículos poluidores e o fechamento de várias fábricas situadas nas imediações de Pequim, além da construção de linhas de metrô e o incentivo para que 32 mil pessoas mudassem o aquecimento à base de carvão de suas casas.

Segundo o Programa para o Meio Ambiente da ONU (Organização das Nações Unidas), as medidas ajudaram a qualidade do ar de Pequim a "melhorar significativamente".

A tecnologia não foi utilizada apenas para diminuir os índices de poluição, mas também para manipular o clima e não prejudicar a competição.

O birô meteorológico de Pequim informou que disparou 1.104 foguetes para dispersar nuvens e evitar a chuva durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, realizada no dia 8 de agosto.

Folha OnLine

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